quarta-feira, 8 de abril de 2015

Cartas Consoladoras. Mais Perturbação que Consolo - Minha experência

Há aproximadamente 10 anos, eu participei de uma sessão de cartas consoladoras do médium Rogério , eu havia tido uma gravidez de um bebê com holoprosencefalia, que não sobreviveu ao parto , sabia que ele não sobreviveria desde a 11.. semana de gestação mas decidi levar gravidez adiante, foi uma experiência dolorosa, nove meses esperando um filho que não sobreviveria, ter que se preparar para sair da maternidade de braços vazios é trágico e esta não seria, infelizmente a única situação trágica na minha vida. 
Tive orientação religiosa espírita, acreditava que sim ,a comunicação era possível, que existiam trabalhos mediúnicos sérios, e não contestava isso.
Eu estava fragilizada, e tentando achar algo que realmente fizesse sentido dentro daquela dor toda, gerar um filho que você sabe que não irá sobreviver fora do teu corpo é algo devastador..., nessa sessão das "Cartas Consoladoras " eu não consegui uma mensagem do meu filho, e sim uma dos "Irmãos do Caminho" , uma mensagem vaga falando sobre esperança, fé..... 
No mesmo dia, a mãe de um rapaz da minha cidade, um jovem muito querido, e conhecido que havia morrido há pouco tempo , estava lá e recebeu uma carta longa do filho, lida em voz alta, a emoção daquela senhora que tinha o coração despedaçado me afetou, não parei por um minuto para questionar se sim ou não, apenas a emoção dela ficou gravada, e foi essa imagem que me fez mais uma vez procurar o médium quando perdi meu marido. Meu marido se foi quando meu filho contava pouco menos de 3 meses; Após minha primeira gravidez,, sofri várias perdas gestacionais até engravidar do meu único filho vivo ;eu tinha um cariótipo que desaconselhava outra gravidez, mas mesmo assim meu filho chegou... quando eu contei da gravidez para o meu marido, ele me disse para ficar calma que ele iria fazer uma promessa para Nossa Senhora Aparecida e que nosso filho nasceria ... E ele nasceu, hoje é um menino saudável, nasceu prematuro, pesando 1,460 kg, ficou na UTI neonatal por 23 dias, quando o levamos para casa foi uma alegria só, a realização de um sonho.. mas com 11 dias fora do hospital ele ficou muito doente e precisou ser hospitalizado, quando finalmente saiu , ainda frágil, com uma alergia severa a lactose, meu marido decidiu que era hora de pagar a promessa, e mesmo eu pedindo , implorando para que ele não fosse, ele seguiu para Aparecida caminhando, ao chegar em Pindamonhangaba foi colhido por um carro que ultrapassou um caminhão no acostamento da Dutra e morreu na hora.. naquele dia eu me vi morrer um pouco... Meu marido era uma pessoa incrível, um menino simples, amigo de todos, super bem humorado, sempre pronto a ajudar, bom filho, bom pai, 26 anos, um bom marido,, lindo, por dentro e por fora, foi muito difícil perdê-lo, uma dor insuportável.
Pouco tempo depois da morte do meu marido, meu filho mais uma vez foi hospitalizado, chegou a ir para a UTI, com infecção generalizada.. quase o perdi também... no meio desse desespero, me lembrei especialmente daquela mãezinha que recebeu a comunicação do filho , e resolvi procurar o médium Rogério, que na ocasião estava vindo sempre em Caçapava, achava que poderia receber uma mensagem do Will, que algo me confortasse, mas a experiência para mim foi mais perturbadora do que consoladora. Fiz uma entrevista extensa com o médium, narrei todos os detalhes do acidente, as circunstâncias , fiz um grande desabafo,ele me pediu um documento do Will ,entreguei a CNH dele, durante a nossa conversa mesmo emocionada percebi que ele estava com a CNH do lado e tentava rascunhar a assinatura do meu marido num bloco de papel, achei estranho, mas enfim, achei que era uma bobeira minha.. durante a nossa conversa não mencionei o fato do meu marido ter outro filho, com quem ele não tinha podido conviver, o que o deixava muito triste, e não falei de Naninha, a única sobrinha que ele tinha , uma criança por quem ele tinha a maior devoção, a maior paixão, que ele queria como uma filha... Após as fases da entrevista, o médium pedia que ficássemos em oração, havia uma música alta , eram rock ballads, e um pouco de new age, nunca mais escutei "LOve Hurts" do Nazareth... peguei horror dessa música... depois de algum tempo ele fez sua entrada apoteótica, leu algumas mensagens e a minha carta ficou para o grand finale.
Fiquei feliz, finalmente o telefone tocara para mim de lá para cá, parafraseando Divalldo Pereira Franco. Foi uma comoção geral, a carta narrava com detalhes o acidente, detalhes que eu mesma forneci, continha conversas que eu contei que eu e o Will tivemos.. uma reprodução romanceada de tudo que eu havia relatado horas antes.., nada além do que eu mesma havia relatado; Na carta ele se referia ao pai como Benedito, e a mãe como Ana Maria... ninguém conhece meus sogros por esses nomes, meu sogro é Santos, minha sogra" Nega"... Benedito e Ana só existem no documento.. achei estranho... a carta não mencionou o filho que ele teve anteriormente , nem a sobrinha Naninha... a Naninha que era o xodó dele..., quantas vezes ele ligava em casa e antes de perguntar por mim, pedia para saber sobre a Nana.. Chorei muito, me deu um misto de desespero, com vontade de acreditar, de querer me agarrar a algo que eu sabia que estava errado... olhei ao redor e todos também choravam, era uma história triste, dramática, sem final feliz... envolvia a audiência, dava IBOPE, no final da psicografia ele me chamou e na frente da plateia disse “Se essa assinatura não for desse moço eu paro de psicografar”.... não tive forças para dizer que não, eu só queria que o chão se abrisse sob meus pés , só queria desaparecer..., aquela gente aplaudindo emocionada, e eu em choque... Lembro de ter agradecido também pela carta, mas não fazia sentido... A dor nos impede de raciocinar.. Cheguei em casa sentei na cama e uma pasta com os documentos do meu marido estavam lá, peguei TODOS os documentos, incluindo cartões de banco, contratos de trabalho, carteira profissional, apólice de seguro , e comparei com a assinatura da carta e era diferente... , todas as assinaturas do meu marido eram iguais só a da CNH era diferente, era a que ele não usava...... e foi exatamente essa assinatura que “ele” assinou a minha carta..., a carta foi gravada em k7 ,minha sogra escutou a fita, e ficou sem graça, disse que aquele não era o menino dela.. até o português bem escrito não era típico do Will, que tinha todas as qualidades do mundo, mas nenhuma intimidade com as letras.. Fiquei confusa, magoada, me senti ferida na minha fé, e ao mesmo tempo com vergonha de contestar de questionar, depois disso nunca mais falei no assunto, mas também perdi completamente a vontade de ter qualquer religião, foi como se o “ficar de mal com Deus” típico do luto, se unisse à decepção com a religião e me impedisse de conseguir me “religar”... hoje tenho minha crença independente de religião, creio em Deus, faço minhas orações, agradeço.
Acredito no trabalho desenvolvido por Chico Xavier, por Divaldo Pereira Franco, sei que existem casas espíritas sérias, e que existem comunicações verdadeiras, sei também que elas dependem da evolução do desencarnado e do merecimento de quem deseja recebê-las, então se um dia elas vierem espontaneamente, sem entrevistas prévias, ou assinaturas forjadas, eu saberei se são verdadeiras ou não, mas não procuro mais! é algo desnecessário que só intensifica o desespero e o sofrimento.

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